Transporte de cargas perigosas: o que diz a lei?
Não basta ter experiência na estrada. Transportar cargas perigosas exige conhecimento da lei e preparo. Descubra como se regularizar.
Se você trabalha com logística, transporte rodoviário ou até mesmo tem uma empresa que depende do envio de produtos químicos, inflamáveis ou radioativos, provavelmente já ouviu falar das famosas cargas perigosas.
Esse tipo de transporte exige cuidados redobrados, tanto por parte das empresas quanto dos motoristas. Mas o que, de fato, diz a legislação sobre isso? E mais: quais os riscos reais e os procedimentos em caso de acidente?
Nesse artigo, você vai entender tudo o que precisa saber sobre transporte de cargas perigosas, desde o que elas são até como transportar de forma legal, segura e eficiente.
Sabemos que questões jurídicas podem gerar dúvidas, e entender seus direitos é essencial para tomar decisões informadas. Em caso de dúvidas sobre o assunto, entre em contato: clique aqui!
Desse modo, pensando em te ajudar, preparamos este artigo no qual você aprenderá:
- O que são cargas perigosas?
- O que diz a legislação sobre cargas perigosas?
- Quais os veículos e quem pode transportar as cargas perigosas?
- Quais os documentos necessários para transportar cargas perigosas?
- Como deve ser feito o transporte de cargas perigosas?
- Quais são os riscos ao fazer transporte de cargas perigosas?
- Como proceder em caso de acidente com cargas perigosas?
- Um recado final para você!
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O que são cargas perigosas?
Cargas perigosas são aquelas que oferecem risco à saúde, ao meio ambiente, à segurança pública ou ao patrimônio durante o transporte.
Esses riscos podem surgir por causa das características químicas, físicas ou biológicas dos produtos envolvidos. É o caso, por exemplo, de substâncias tóxicas, inflamáveis, explosivas, corrosivas, radioativas ou biológicas.
Para organizar tudo isso, a ONU criou uma classificação internacional com 9 classes de risco, e o Brasil segue essa mesma base por meio da regulamentação da ANTT:
- Explosivos
- Gases (inflamáveis, não inflamáveis, tóxicos)
- Líquidos inflamáveis
- Sólidos inflamáveis e reativos
- Substâncias oxidantes e peróxidos
- Materiais tóxicos e infectantes
- Radioativos
- Corrosivos
- Diversos (resíduos perigosos como baterias de lítio)
O mais importante é entender que o risco está tanto no conteúdo da carga quanto na forma como ela é armazenada e transportada. Um material pode parecer inofensivo à primeira vista, mas, mal acondicionado, pode gerar sérios danos.
O que diz a legislação sobre cargas perigosas?
A legislação que trata do transporte de cargas perigosas é bastante específica e técnica.
A norma principal é a Resolução ANTT nº 5.998/2022, que entrou em vigor em junho de 2023 e atualizou as regras anteriores, seguindo os padrões do Orange Book da ONU. Ela estabelece obrigações tanto para o transportador quanto para o expedidor da carga.
A lei determina que todas as cargas perigosas devem ser identificadas, classificadas e embaladas corretamente, além de exigirem veículos apropriados, motoristas capacitados, sinalização externa e documentação completa.
Há também exigências sobre rastreabilidade, inspeção técnica e uso de EPIs, dependendo do tipo e quantidade da carga.
Outro ponto importante é que, em transportes interestaduais, pode ser necessário obter autorização ambiental junto ao Ibama. Já em caso de irregularidade, a ANTT pode aplicar multas, apreender o veículo ou suspender o transportador.
A legislação é bem detalhada justamente porque o risco envolvido também é alto, e qualquer falha pode resultar em acidentes graves ou danos irreversíveis ao meio ambiente.
Quais os veículos e quem pode transportar as cargas perigosas?
A lei é clara nesse ponto: só podem transportar cargas perigosas os veículos classificados como “carga” ou “misto”, conforme o Código de Trânsito Brasileiro. Isso exclui, por exemplo, motocicletas, motonetas e ciclomotores.
Para transporte a granel (como tanques de combustível, por exemplo), é obrigatório que o veículo tenha:
- CIV (Certificado de Inspeção Veicular);
- CIPP (Certificado de Inspeção para Produtos Perigosos);
- CTPP (Certificado para Transporte de Produtos Perigosos), conforme o tipo de operação.
Esses certificados são emitidos por organismos acreditados pelo Inmetro e devem estar sempre atualizados e disponíveis no veículo durante o transporte.
Mas não é só o veículo que precisa estar em dia. O motorista também precisa estar devidamente habilitado. Isso inclui:
- Ter CNH na categoria adequada;
- Ter mais de 21 anos;
- Não ter cometido infração grave ou gravíssima nos últimos 12 meses;
- E, principalmente, ter o curso MOPP (Movimentação Operacional de Produtos Perigosos) em dia.
Esse curso tem uma carga horária mínima de 50 horas e deve ser renovado a cada 5 anos. Ele capacita o motorista para lidar com emergências, manuseio, legislação e prevenção de acidentes.
Ou seja, transportar carga perigosa não é só pegar a estrada: envolve habilitação, conhecimento técnico, certificações e muito cuidado com a segurança.
Quais os documentos necessários para transportar cargas perigosas?
O transporte de carga perigosa nunca deve ser feito sem a documentação correta, pois isso pode gerar multa, apreensão da carga e riscos sérios em caso de acidente.
Entre os principais documentos estão:
- Documento fiscal da carga, como o CT-e (Conhecimento de Transporte Eletrônico);
- Declaração do expedidor, que garante que a carga está embalada, identificada e segura;
- Ficha de emergência, com orientações sobre como agir em caso de acidente;
- Rótulos de risco e painel de segurança, com o número ONU da substância;
- Autorização ambiental do Ibama, nos casos de transporte interestadual;
- Certificados de inspeção: CIV, CIPP, CTPP, conforme o tipo de veículo e carga;
- CNH e curso MOPP do motorista.
Além disso, o veículo deve estar sinalizado com os rótulos de risco da substância, visíveis nas laterais e na traseira. Tudo isso serve para garantir que, em caso de fiscalização ou emergência, as autoridades saibam exatamente o que está sendo transportado.
Se você trabalha com isso, sabe: qualquer descuido com documentação pode sair caro, tanto em termos financeiros quanto legais. Nesses casos, um suporte jurídico pode ajudar muito, especialmente quando há divergências nas exigências estaduais ou em caso de acidentes.
Como deve ser feito o transporte de cargas perigosas?
O transporte adequado de cargas perigosas envolve planejamento, estrutura e atenção total aos detalhes.
Para começar, o produto deve ser corretamente classificado segundo a tabela da ONU, o que vai definir sua categoria de risco, as exigências de embalagem, sinalização e conduta.
Depois disso, o transporte só pode acontecer se o veículo estiver devidamente certificado e equipado, com itens como extintores de incêndio, kit de contenção de vazamento, cones e sinalização externa. A carga deve estar bem acondicionada e amarrada, sem risco de tombamento, ruptura de embalagem ou vazamento durante o trajeto.
A rota também deve ser cuidadosamente planejada, evitando áreas de risco, locais com grande concentração de pessoas ou fontes de água. Algumas cidades impõem restrições de horário ou circulação, especialmente em zonas urbanas, e isso deve ser respeitado.
O motorista precisa estar plenamente capacitado, com o curso MOPP em dia, e saber como agir em caso de emergência. Durante todo o transporte, o ideal é que haja monitoramento em tempo real, tanto por segurança quanto para controle operacional.
Tudo isso garante não apenas o cumprimento da lei, mas a segurança das pessoas, do meio ambiente e do próprio condutor.
Quais são os riscos ao fazer transporte de cargas perigosas?
Os riscos envolvidos no transporte de cargas perigosas são altos e vão muito além do simples extravio da mercadoria.
Estamos falando de riscos à vida, ao meio ambiente e ao patrimônio, em proporções muitas vezes imprevisíveis. Um dos mais graves é o vazamento de substâncias tóxicas ou inflamáveis, que pode causar incêndios, explosões ou contaminação de solo e rios.
Além disso, a exposição a vapores tóxicos pode afetar a saúde do motorista, das equipes de emergência e de pessoas próximas ao acidente, causando desde irritações leves até intoxicações graves.
Em casos mais extremos, como o transporte de material radioativo, o impacto pode durar décadas.
Esses acidentes também geram danos econômicos e jurídicos. Uma empresa que sofre um vazamento grave pode ser multada, ter a carga apreendida e ainda enfrentar processos por danos ambientais ou pessoais.
Em muitos casos, a empresa ou o transportador é obrigado a arcar com os custos de limpeza, indenização e reconstrução da área atingida.
Além disso, os danos à imagem da empresa são difíceis de reverter. Por isso, prevenir riscos nesse tipo de transporte é mais do que obrigação legal: é uma estratégia de sobrevivência e responsabilidade.
E, claro, contar com um advogado especializado pode ser crucial na hora de lidar com os efeitos de um incidente ou com a análise preventiva de contratos e procedimentos.
Como proceder em caso de acidente com cargas perigosas?
Quando ocorre um acidente com carga perigosa, a prioridade número um é preservar vidas e evitar que o problema se agrave.
A primeira atitude deve ser isolar a área e afastar pessoas não envolvidas, inclusive o próprio motorista se ele estiver em segurança. Depois, é fundamental:
- Identificar o tipo de substância envolvida, usando os painéis de segurança e o número ONU;
- Ligar imediatamente para os Bombeiros (193), Polícia Rodoviária (191), SAMU (192) e informar o ocorrido;
- Consultar a ficha de emergência, que orienta como agir de acordo com o produto;
- Utilizar o kit de contenção, se for seguro e possível, para evitar a propagação da substância;
- Evitar contato direto com a carga, especialmente se for corrosiva, tóxica ou inflamável;
- Aguardar a chegada das autoridades competentes, fornecendo todas as informações disponíveis.
Dependendo do tipo de produto, pode ser necessário evacuar a área, acionar órgãos ambientais e até interditar a via por horas ou dias.
Depois que tudo estiver sob controle, é preciso fazer um relatório completo do acidente, com os documentos da carga, do motorista e do veículo, e encaminhá-lo à ANTT, Ibama e outras autoridades competentes.
E se houver vítimas ou danos ambientais, a empresa responsável poderá ser demandada judicialmente. Nesses casos, o ideal é ter suporte jurídico especializado desde o início, para lidar com perícias, autos de infração e eventuais processos civis ou criminais.
Um recado final para você!
Sabemos que o tema pode levantar muitas dúvidas e que cada situação é única, demandando uma análise específica de acordo com as circunstâncias de cada caso.
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O suporte jurídico adequado é fundamental para que decisões sejam tomadas de forma consciente e segura.
Artigo de caráter meramente informativo elaborado por profissionais do escritório Valença, Lopes e Vasconcelos Advocacia.
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