Gaslighting: Como Identificar a Manipulação Psicológica?

Você já duvidou da sua própria memória ou sanidade por causa de outra pessoa? Esse é o significado de Gaslighting. Abaixo, entenda melhor sobre o assunto!

Gaslighting: Como Identificar a Manipulação Psicológica?

Gaslighting: Como Identificar a Manipulação Psicológica?

Gaslighting é uma forma de manipulação psicológica na qual a vítima é levada a duvidar de sua própria percepção da realidade.

Tente imaginar uma situação em que você é constantemente acusado/a de ser “paranoico/a” ou de estar “inventando coisas”, ainda que você saiba que não é o caso. Essa é uma forma de desgaste mental típica do gaslighting.

Por sua vez, tal prática envolve mentiras constantes, negação de fatos evidentes e distorção de informações. A vítima, como consequência, passa a questionar sua memória, sanidade e seus sentimentos.

Geralmente, esse tipo de manipulação está vinculado aos relacionamentos abusivos, podendo ocorrer em contextos pessoais, profissionais ou familiares.

Mas o que pode ser feito sobre essa prática em termos da lei?

Neste artigo, vamos explicar o que é gaslighting, como identificar e quais são as proteções legais disponíveis para quem sofre esse tipo de abuso.

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O que é gaslighting?

Gaslighting é uma forma de manipulação psicológica na qual o abusador faz a vítima duvidar de sua própria percepção, memória e sanidade.

Esse termo vem de uma peça de teatro e filme chamado “Gaslight” (À Meia Luz), de 1944, em que a história trata de um marido manipula sua esposa para que ela pense que está enlouquecendo.

No contexto dessa prática, a manipulação é sutil e contínua, tornando difícil para a vítima perceber o abuso. O manipulador pode negar fatos óbvios, distorcer informações e minimizar os sentimentos da vítima, fazendo-a questionar sua realidade.

Essa prática é comum em relações abusivas, seja no âmbito familiar, amoroso ou profissional. Por exemplo, um parceiro pode constantemente negar ter dito algo ou acusar a vítima de ser “muito sensível” ou “paranoica”.

No ambiente de trabalho, um chefe pode atribuir erros à vítima que não cometeu, fazendo-a duvidar de sua competência. O objetivo do gaslighting é controlar a vítima, minar sua autoestima e isolá-la de fontes de apoio.

Reconhecer esses sinais é crucial para buscar ajuda e proteção, pois o impacto emocional pode ser profundo e duradouro.

Quem sofre de gaslighting?

Estatisticamente, mulheres são as principais vítimas de gaslighting, especialmente em relações íntimas. Estudos mostram que a violência psicológica é uma forma comum de abuso doméstico e afeta predominantemente mulheres.

Segundo pesquisa realizada pela Heach Recursos Humanos, 3 (três) em 4 (quatro) mulheres já sofreram desse tipo de abuso no contexto trabalhista.

Fora desse contexto, sabemos que as mulheres em todo o mundo são as maiores vítimas de violência física, sexual e emocional por parte de seus parceiros. Por sua vez, a manipulação psicológica é uma tática frequentemente utilizada nesses casos.

Apesar dessa realidade preocupante, o gaslighting também pode ocorrer com homens. Qualquer pessoa pode ser vítima de manipulação, independente do contexto.

Geralmente, em ambientes de trabalho, chefes abusivos podem usar essa prática para controlar e minar a confiança de seus subordinados. Enquanto que nos relacionamentos amorosos, é usado para manter a vítima dependente do abusador.

Portanto, a manipulação psicológica pode ocorrer em qualquer relação de poder, afetando pessoas de todas as idades, gêneros e classes sociais. Reconhecer esses padrões é essencial para combater o abuso e buscar apoio adequado.

Como saber se sou vítima de gaslighting?

São vários os sinais desse tipo de manipulação. Portanto, é fundamental estar sempre atento à forma como as pessoas falam e/ou lidam com você nas mais variadas situações.

Em qualquer contexto, os sinais mais recorrentes são:

  1. Questionar sua memória com frequência. Ou seja, a pessoa nega o tempo inteiro ter dito ou feito algo, mesmo quando você sabe que ocorreu.
  2. Forçar insegurança. Isto é, a vítima sente-se insegura sobre suas próprias percepções e emocionais, pois é confrontada sempre pelo abusador.
  3. Minimizar seus sentimentos. O abusador, em geral, diz que você sempre está exagerando ou sendo muito sensível, desconsiderando como você se sente.
  4. Isolar. É comum que o abusador tente te afastar de amigos e familiares, dizendo que eles não são confiáveis.
  5. Pedir desculpas pelo comportamento do outro. Ou seja, a vítima está sempre se desculpando pelo comportamento do abusador para amigos e familiares.
  6. Distorcer a realidade. A pessoa distorce eventos para fazer a vítima duvidar de fatos.

É muito comum ouvir, neste sentido, coisas como “Você está louca” ou “Não foi assim que aconteceu” e afins.

Se você identificar esses sinais, é importante buscar ajuda. Fale com amigos ou familiares de confiança, consulte um psicólogo ou procure orientação legal.

Reconhecer o gaslighting é o primeiro passo para recuperar sua autoestima e bem-estar emocional.

Gaslighting é crime no Brasil?

Embora a prática de gaslighting não seja tipificada como crime, há a possibilidade de enquadrar em outras categorias legais, como abuso psicológico e violência doméstica.

Nesses casos, a Lei Maria da Penha é um importante instrumento para combater esse tipo de violência e manipulação mental.

De acordo com o artigo 7º da lei, lê-se:

II – a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

Desse modo, a violência psicológica é entendida como qualquer conduta que 

Essas ações podem ser realizadas mediante manipulação.

Além disso, dependendo da situação, o gaslighting pode estar associado a crimes como difamação, injúria, ameaça e os crimes contra a honra, todos previstos no Código Penal Brasileiro.

O que fazer se eu for vítima de gaslighting?

Se você for vítima de gaslighting, o primeiro passo é reconhecer os sinais e aceitar que está sendo manipulado. Nesse sentido, procure apoio emocional de amigos e familiares de confiança. Eles podem ajudar a validar suas percepções e fornecer suporte.

Documente os episódios de gaslighting. Guarde mensagens, e-mails e anote eventos específicos com datas e detalhes. Essas provas podem ser essenciais se você decidir tomar medidas legais.

Consulte um psicólogo para lidar com o impacto emocional do gaslighting. Um profissional pode ajudar a reconstruir sua autoestima e oferecer estratégias para lidar com o abuso.

Busque orientação jurídica para entender seus direitos e as proteções legais disponíveis. No Brasil, a Lei Maria da Penha protege contra a violência psicológica, e o gaslighting pode ser enquadrado nessa categoria.

Denuncie a violência psicológica. Vá até uma Delegacia de Defesa da Mulher ou ligue para o Disque 180. Esses canais oferecem suporte e encaminhamento para serviços especializados.

Lembre-se, reconhecer o abuso é o primeiro passo para recuperar sua autonomia e bem-estar emocional. Não hesite em buscar ajuda.

Exemplos de gaslighting

Acreditamos ser importante relatar um dos casos de nosso escritório a fim de mostrar como funciona o gaslighting na prática.

Maria (nome fictício) entrou em contato com nosso escritório para se informar sobre seus direitos matrimoniais após 10 anos de relacionamento.

A mulher acreditava não ter direito a nada, pois não tinha um casamento registrado civilmente e seu marido, João (nome fictício) constantemente dizia que o relacionamento dos dois não era reconhecido pela justiça.

Parecia, inicialmente, um caso simples, mas à medida que nossos profissionais cuidavam do caso, percebiam que Maria havia sido vítima de manipulação por muitos anos. Ela vivia isolada de sua família, amigos e até vizinhos, pois João colocava em sua cabeça que todos eram perigosos.

Antes de nos contatar, ela queria a separação por anos. Mas nunca teve coragem de buscar, pois era financeiramente dependente do marido, que dizia sempre que ela não teria direito a nada.

Além disso, descobrimos que todas as finanças de Maria eram controladas e usadas pelo marido. João, por sua vez, a fazia acreditar que estava investindo em bens para o casal quando, na verdade, gastava o dinheiro com bens em seu nome.

O ponto de partida para nos procurar se deu quando Maria foi expulsa de sua casa após João vender o imóvel que ela acreditava ser dos dois. Mesmo nessa situação, ele dizia que não “era bem assim” e que tinha sido “um mal entendido”.

Desse modo, ressaltamos a importância de buscar orientação jurídica quando você sentir que está sendo prejudicado pelo outro de alguma forma em função de manipulação constante.

Maria teve seus direitos garantidos e João foi devidamente processado por violência psicológica.

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Artigo escrito por especialistas do escritório Valença, Lopes e Vasconcelos Advocacia | Direito Civil | Direito de Família | Direito Criminal | Direito Previdenciário | Direito Trabalhista | Direito Bancário. 

Autor

  • joao valenca

    •Advogado (43370 OAB) especialista em diversas áreas do Direito e Co-fundador do escritório VLV Advogados, empresa referência há mais de 10 anos no atendimento humanizado e mais de 5 mil cidades atendidas em todo o Brasil.

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