Prescrição de crimes contra a vida: a Justiça espera?

A prescrição de crimes contra a vida define o tempo máximo que o Estado tem para punir o acusado, e se esse prazo expira, o réu não pode mais ser responsabilizado.

imagem representando prescrição de crimes contra a vida

Prescrição de crimes contra a vida: a Justiça espera?

Quando falamos em crimes contra a vida, entramos no terreno mais delicado do Direito Penal.

Afinal, nada é mais precioso do que a vida humana, e por isso o ordenamento jurídico brasileiro a coloca no topo da hierarquia dos bens tutelados.

Mas uma questão costuma gerar revolta e ao mesmo tempo confusão: é possível que um homicídio, um feminicídio ou até mesmo outro crime que envolva a morte de alguém prescreva?

Em outras palavras, será que o tempo pode fazer com que o autor de um crime tão grave escape da punição? Essa discussão não é apenas jurídica, mas também ética, social e até política.

Para entender esse dilema, você precisa compreender alguns conceitos básicos: o que são os crimes contra a vida, o que significa prescrição, quais são os prazos previstos em lei e o que acontece quando o tempo “vence”.

Sabemos que questões jurídicas podem gerar dúvidas, e entender seus direitos é essencial para tomar decisões informadas. Em caso de dúvidas sobre o assunto, entre em contato aqui!

O que são os crimes contra a vida?

Os crimes contra a vida são aqueles que têm como objetivo direto a eliminação da vida humana, protegendo o bem jurídico mais importante previsto na Constituição.

Eles estão listados nos artigos 121 a 128 do Código Penal e incluem situações como homicídio, feminicídio, infanticídio, aborto e também o induzimento ou auxílio ao suicídio.

Quando se trata de crimes dolosos contra a vida, a Constituição determina que o julgamento seja feito pelo Tribunal do Júri, garantindo a participação popular.

Já os crimes culposos, em que não há intenção de matar, são julgados pela Justiça comum.

Ao compreender o que são os crimes contra a vida, é possível perceber que não se trata apenas de homicídio no sentido mais conhecido.

Existem nuances, como o caso do infanticídio, em que a lei considera o estado psicológico da mãe no momento do parto, e o aborto, que envolve o debate sobre os direitos da gestante e o início da vida.

Apesar das diferenças entre eles, todos esses crimes têm em comum a tutela da vida humana como valor central.

O que é a prescrição de crimes contra a vida?

A prescrição de crimes contra a vida é a perda do direito do Estado de aplicar uma pena em razão da demora no julgamento ou na execução da sentença.

Está prevista no artigo 107 do Código Penal como uma causa de extinção da punibilidade, o que significa que o crime continua existindo, mas o autor não pode mais ser punido.

Ao tratar da prescrição de crimes contra a vida, é importante destacar que ela pode ocorrer em diferentes momentos.

A prescrição da pretensão punitiva acontece quando o prazo se esgota antes da condenação definitiva, e a prescrição da pretensão executória ocorre depois do trânsito em julgado, impedindo que a pena seja cumprida.

Ainda existem a prescrição retroativa, baseada na pena concreta aplicada, e a intercorrente, que se dá quando o processo fica paralisado por tempo excessivo.

Em todos esses casos, a consequência é a mesma: a Justiça perde a possibilidade de punir o autor.

Qual o prazo de prescrição de crimes contra a vida?

O prazo de prescrição de crimes contra a vida é definido de acordo com a pena máxima prevista em abstrato para o delito, seguindo a tabela do artigo 109 do Código Penal.

Quanto mais grave for a pena, maior será o tempo que o Estado tem para agir. Confira:

Pena máxima em abstrato Prazo de prescrição Exemplo
Superior a 12 anos 20 anos Homicídio simples (6 a 20 anos)
Mais de 8 até 12 anos 16 anos Tentativa de homicídio qualificado
Mais de 4 até 8 anos 12 anos Aborto sem consentimento
Mais de 2 até 4 anos 8 anos Homicídio culposo (até 3 anos)
Até 2 anos 4 anos Induzimento ao suicídio (formas leves)

O prazo, entretanto, não corre de forma contínua.

Ele pode ser suspenso ou interrompido em diversos momentos, como no recebimento da denúncia, na citação válida do acusado ou na publicação da sentença condenatória, reiniciando a contagem.

Existem crimes contra a vida que são imprescritíveis?

Quando se fala se existem crimes contra a vida que são imprescritíveis, a resposta é que não há previsão legal que torne esses crimes imunes ao decurso do tempo.

A Constituição Federal considera imprescritíveis apenas dois tipos de delitos: a prática do racismo e a ação de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado Democrático.

Nenhum crime contra a vida se encaixa nessas hipóteses.

Isso significa que todos os crimes contra a vida podem prescrever, desde um homicídio até um aborto ou infanticídio.

O que existe é um debate acadêmico e político sobre a possibilidade de tornar homicídios e feminicídios imprescritíveis, justamente pela gravidade do bem jurídico atingido.

No entanto, até o momento, essa discussão não resultou em mudança legislativa.

Portanto, ainda que se trate de crimes que atentam contra o valor mais alto do ordenamento jurídico, a prescrição permanece aplicável.

O que acontece após a prescrição de crimes contra a vida?

O que acontece após a prescrição de crimes contra a vida é a extinção da punibilidade.

Isso significa que o processo é encerrado, e o autor não pode mais ser responsabilizado criminalmente.

Se o processo ainda estava em andamento, ele é arquivado. Se já havia condenação definitiva, a execução da pena deixa de ser possível.

É importante destacar que a prescrição não significa absolvição de mérito. O juiz não declara que o réu é inocente; apenas reconhece que o Estado perdeu o prazo para punir.

O crime continua registrado como um fato, mas sem efeitos penais.

Outra consequência importante é que a prescrição não impede a vítima ou sua família de buscar indenização civil. A responsabilidade criminal pode desaparecer, mas a responsabilidade civil permanece.

Se alguém foi morto, por exemplo, a família ainda pode entrar com ação de indenização por danos morais e materiais, independentemente da prescrição penal.

Para as famílias das vítimas, o encerramento do processo sem julgamento de mérito costuma ser doloroso. Para os acusados, representa o exercício de um direito. E, para o Estado, é uma demonstração de falha na prestação jurisdicional.

É nesse ponto que a atuação de um advogado se mostra essencial, seja para cobrar agilidade e evitar que o processo prescreva, seja para garantir a defesa de quem responde a uma acusação.

Um recado final para você!

Em caso de dúvidas, procure assistência jurídica!

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Sabemos que o tema pode levantar muitas dúvidas e que cada situação é única, demandando uma análise específica de acordo com as circunstâncias de cada caso.

Se você tiver alguma questão ou quiser saber mais sobre o assunto, recomendamos a consulta com um advogado especialista.

O suporte jurídico adequado é fundamental para que decisões sejam tomadas de forma consciente e segura.

Artigo de caráter meramente informativo elaborado por profissionais do escritório Valença, Lopes e Vasconcelos Advocacia.

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Autor

  • joao valenca

    •Advogado (43370 OAB) especialista em diversas áreas do Direito e Co-fundador do escritório VLV Advogados, empresa referência há mais de 10 anos no atendimento humanizado e mais de 5 mil cidades atendidas em todo o Brasil.

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